O subsídio de funeral, que ajudava a família a garantir uma última despedida digna, foi, durante mais de um século, o core business e a razão de ser das Associações Mutualistas em Portugal.
O paradigma mudou radicalmente nas últimas décadas com as mutualidades a diversificarem a sua carteira de produtos - desde a proteção social à poupança - e as suas áreas de atuação - desde as caixas económicas, à saúde (gerindo hospitais, clínicas e farmácias sociais), à ação social (dinamizando lares residenciais, centros de dia e de convívio), à educação (creches e centros infantis), à formação profissional, ao turismo social, ao apoio jurídico, às artes e cultura, entre muitas outras.
O modelo mutualista evoluiu na multiplicidade de respostas sem abandonar os seus princípios e os seus valores primordiais de há 721 anos, prevalecendo a entreajuda entre os seus membros e a afetação das receitas aos fins próprios da associação mutualista.
Essa mudança de paradigma está em marcha, mas ainda há quem lhe queira colar o estigma do “pagar para a morte” ou até quem lhe augure um fim próximo.
As mutualidades estão a reinventar-se, longe dos holofotes, mas cada vez mais próximas das pessoas, dos seus problemas, dos territórios mais recônditos, em permanente busca de novas soluções para os desafios cada vez mais complexos que a sociedade lhes coloca e para os quais o Estado não está preparado para dar resposta.
O movimento mutualista é, indubitavelmente, um dos importantes pilares da economia social, que foi tábua de salvação, para muitos dos desprotegidos, da crise económica que atravessámos, e tem seguido uma trajetória de rejuvenescimento e de capacitação das organizações.
É esse o grande desafio que o movimento mutualista tem pela frente e para o qual a União das Mutualidades Portuguesas (UMP) tem procurado mobilizar os seus recursos, os dirigentes, os técnicos e os colaboradores das associações mutualistas.
Num Mundo cada vez mais global, importa também pensar o posicionamento do mutualismo português relativamente aos territórios da CPLP e à sua própria representação internacional. Neste último capítulo, dar-se-á mais um passo com a adesão da UMP à União Mundial das Mutualidades, este mês, e a sua indigitação para a vice-presidência do Comité Intercontinental, em representação da Europa.
LUÍS ALBERTO SILVA
Presidente do Conselho de Administração da União das Mutualidades Portuguesas