Estimular o movimento Mutualista
Falar do movimento mutualista em Portugal, remete-nos desde logo para 1297, ano em que por iniciativa do rei D. Dinis, foi fundada a primeira confraria laica em Beja e que se considera ser o primeiro passo do mutualismo em Portugal. Por toda a idade média proliferaram as confrarias medievais a que se seguiu o aparecimento das confrarias gerais, grémios e guildas. Já na segunda metade do século XVI nascem irmandades de socorro muito semelhantes às mutualidades modernas que existiram até ao século XVIII. Por questões políticas, os liberais opuseram-se aos grémios, irmandades e confrarias retirando-as da esfera eclesiástica limitando as suas competências e obrigando-as a transformar-se em montepios. Por iniciativa do Estado começaram a criar-se montepios oficiais que protegiam os funcionários e suas famílias com pensões de viuvez e orfandade, de velhice e invalidez. Em meados do século XIX desaparecem a maioria dos montepios oficiais. Os operários da indústria, os artesãos e outros em plena revolução industrial, associam-se num novo tipo de associação, denominada de socorros mútuos, montepio ou mutualidade instituições essas que perduraram até aos dias de hoje.
A ideia de entreajuda, de auxílio mútuo, de proteção e o socorrismo como forma espontânea de resposta a catástrofes ou acidentes foram as ideias fortes que motivaram a criação e consolidação destas instituições.
As associações mutualistas assumiam assim o papel de uma espécie de seguro social cujos princípios se fundavam no voluntarismo e no associativismo com a finalidade de cobrir um conjunto de riscos de doença, incapacidade para o trabalho, velhice, morte ou sobrevivência.
Foi neste contexto que em 1870 foi fundada em Bragança a Associação de Socorros Mútuos pela iniciativa de um grupo de artistas (artesãos) que confrontados precisamente com estas questões sociais, enveredaram por este modelo para se protegerem mutuamente. Porém, a sua atividade cedo se direcionou para o exterior, interagindo com a comunidade em que se encontrava inserida e assumindo responsabilidades sociais com a realização de iniciativas recreativas e culturais de forma permanente que estimularam o dinamismo local.
Destacam-se neste caso diversas festas comunitárias em consonância com as tradições locais e de forma particular a sua responsabilidade pela divulgação do cinema, tendo sido a única instituição que durante décadas teve este encargo na cidade de Bragança.
A partir de 1991, a associação iniciou a sua atividade como IPSS, assumindo atividades no apoio à infância e terceira idade. Em cooperação com a Segurança Social, passou a disponibilizar à comunidade, refeitório social, cantina social, centro de convívio, centro de dia, creche familiar e Centro de atendimento à vítima. De forma geral, a ASMAB tem acompanhado o esforço coletivo de todas as instituições mutualistas e da nossa União no sentido de reforçarmos o movimento mutualista.
Para tal torna-se necessário termos a capacidade de compreendermos as questões sociais emergentes, interpretar as necessidades das comunidades em que nos encontramos inseridos, divulgando os valores do mutualismo e captando para o movimento toda a sociedade e em especial os jovens e as mulheres.
Realçamos de primordial importância as iniciativas que a União tem tomado conducentes à formação do movimento dos jovens e mulheres mutualistas, esforço esse, verificado também pelas associações incluindo-os nos seus corpos sociais, nos postos de trabalho e de uma forma geral na sua massa associativa, o que, para além de tornar o movimento mais democrático e participativo, proporciona também a sua sustentabilidade e dinamismo.
Deveremos ser empreendedores identificando os problemas sociais, focando-nos neles e providenciando caminhos que permitam solucionar as situações em que a comunidade está negligenciada ou desfavorecida.
Os problemas são cada vez mais complexos. Cada instituição só por si não tem a capacidade para enfrentar estes problemas. O estabelecimento de plataformas de atuação, o trabalho cooperativo, as parcerias estratégicas e o trabalho em rede tornam-se cada vez mais essenciais para a resolução destes problemas.
Decorridos mais de sete séculos da primeira iniciativa mutualista, mantém-se a sua pertinência. Saibamos nós mutualistas dinamizar e fortalecer o movimento, unindo-nos internamente e tendo a capacidade de mobilizar toda a sociedade incluindo as instituições públicas e privadas.
ALCÍDIO CASTANHEIRA
Presidente da Direção da Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança
publicado em 23-12-2019 | 15:43