A Previdência Familiar do Porto vai investir em residências para estudantes
A próxima resposta com que A Previdência Familiar do Porto se propõe avançar passa pela criação de residências para estudantes, indo ao encontro das necessidades sentidas naquela que é a segunda maior cidade do país, que acolhe anualmente milhares de alunos do Ensino Superior. Nesta entrevista, Sérgio Meira, Presidente do Conselho de Administração d’A Previdência Familiar do Porto, fala dos constrangimentos com que se debate a instituição para desenvolver, em pleno, a capacidade instalada das suas respostas nas áreas da saúde e do apoio social.
Um dos focos da atuação d’A Previdência Familiar do Porto é o serviço social, mas o seu raio de ação continua limitado pela ausência de convenções com o Estado. É um obstáculo intransponível?
Torna-se difícil implementar um serviço de apoio domiciliário eficaz quando as outras instituições têm a sua capacidade esgotada e nós, com disponibilidade e meios para o fazer, não temos convenções com o Estado. Isso obriga-nos a praticar preços demasiado elevados para aquelas que são as possibilidades destes idosos, que vivem isolados no Porto, que é uma cidade envelhecida. Nós prestamos esse serviço, mas de uma forma muito limitada, porque a valência tem que ser sustentável.
Vislumbra-se luz ao fundo do túnel?
Todos os anos se fala que as coisas vão mudar e que haverá novos protocolos, mas não passam de expectativas.
Tanto na área social, como na área da saúde, a Associação fez um investimento, que, por essa razão, não estará a ser totalmente aproveitado?
A valência clínica nasceu para dar apoio à Liga do Porto e tinha a indicação da Administração Regional de Saúde de que se tratava de um equipamento que fazia falta no centro da cidade e que, futuramente, poderia vir a complementar a unidade de saúde. As obras no nosso edifício foram pensadas com esse objetivo, segundo as regras impostas pela ARS. No caso do Serviço de Apoio Domiciliário, também tínhamos a indicação de que era um equipamento necessário e premente no centro do Porto e recrutámos pessoas, investimos numa cozinha, numa lavandaria e numa carrinha para servir as refeições e tudo saiu frustrado. Um Decreto-Lei de 2012 acabou com novas convenções, até hoje. Estamos em 2019.
A Previdência Familiar do Porto é co-fundadora da Liga do Porto, que tem o seu foco na assistência médica, mas também presta serviços nessa área. A capacidade instalada permitiria fazer mais?
Quando pensámos as nossas instalações, o objetivo era criar um polo da Liga do Porto e prestar um serviço complementar aos centros de saúde da envolvência, que tinham um tempo médio de espera por consultas de medicina geral e familiar de dois e três meses. A Lei não o permitiu e, atualmente, os serviços da Liga suportam a procura que existe. O nosso foco é prestar um serviço complementar do posto de saúde, com as especialidades de medicina dentária, dermatologia, clínica geral e psicologia.
E, uma vez que há condições físicas, a Associação perspetiva alargar o leque de especialidades?
Não. Apostamos mais na centralização dos serviços clínicos na Liga do Porto e, através dela, proporcioná-los aos nossos associados. Não temos necessidade de entrar em concorrência com associações mutualistas e o Porto não precisa disso. Neste momento, o Conselho de Administração está a estudar outra forma de rentabilizar o espaço dos consultórios desocupados que temos na Associação, que pode nem ser através da área da saúde.
A Previdência Familiar do Porto pondera avançar com novas respostas?
Uma das nossas apostas é a disponibilização de residências para estudantes, algo de que a cidade do Porto, onde existem vários polos universitários, tanto precisa. Temos dois projetos em mãos para dois edifícios contíguos à nossa sede. Um vai ser demolido e reconstruído e outro remodelado.
Pinta-se um quadro cor-de-rosa da ligação do Estado à Economia Social, mas, nas áreas da saúde e do apoio social, há muito a limar nessa relação?
Pinta-se o quadro, o quadro fica bonito, mas depois, na prática, falta a parede para o colocar. Vivemos numa grande cidade, que toda a gente reconhece que é muito envelhecida, onde a sua população residente é idosa, vive isolada e carece desse apoio mais próximo – seja em saúde ou apoio social. O mutualismo nasceu para dar ajuda de proximidade, mas, na realidade, não o consegue fazer. O quadro é muito bonito, mas, na prática, não temos meios e a estrutura não funciona.
Tínhamos uma caixa económica, que era fulcral, e, mais uma vez, o Estado não esteve ao lado das associações mutualistas. Criou-nos uma série de constrangimentos e ao colocar-nos no mesmo “barco” dos bancos, cortaram-nos as pernas. Dissolvemos, há dois anos, a nossa caixa económica, e continuamos com aquela que era a nossa missão: ajudar quem, em dado momento, tem uma dificuldade e utiliza o seu ouro para fazer um levantamento. Constituímos uma sociedade, que é um braço que se estende d’A Previdência Familiar do Porto, para desenvolver essa atividade prestamista, que era a essência das caixas económicas.
O subsídio continua a ser a principal porta de entrada na Previdência?
Já não é. Quem julgar que, por aí, vai aumentar o seu número de associados está enganado. Ninguém se inscreve como associado para pagar o funeral. Temos que ir mais longe e oferecer outros serviços, e nós temos os serviços clínicos, os serviços sociais e a atividade prestamista. Estamos a fazer alguns ajustes no Regulamento de Benefícios no sentido de tornar o subsídio de funeral sustentável. Vemo-nos forçados a aumentar ligeiramente a quota e a eliminar o subsídio do cônjuge.
O Mutualismo tem futuro?
O mutualismo, cada vez mais, faz sentido, porque tudo o que nasce à nossa volta visa o lucro. Nem toda a gente tem capacidade para fazer um seguro de saúde e ir a um hospital privado ou esperar por uma consulta no SNS. As associações mutualistas prestam um serviço de qualidade garantida, porque os médicos, se são bons no hospital X ou Y, não perdem qualidade só porque atravessam a rua para dar consultas na Liga.
Algumas Associações Mutualistas acomodaram-se e deixaram-se estagnar, permanecendo na base do subsídio de funeral. Algumas delas ainda irão a tempo de dar o passo que é preciso dar.
publicado em 23-12-2019 | 16:50